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quinta-feira, 24 de março de 2016

Chikungunya: Uma epidemia nacional

Já é de conhecimento mundial os efeitos devastadores que as arboviroses transmitidas pelos mosquitos do gênero Aedes tem causado. Entre elas está a Chikungunya, doença infecciosa febril, transmitida pela picada da fêmea de mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, que atinge principalmente as articulações e nos deixa incapacitados por muitos dias, deixando de "lembrança" dores que podem perdurar por um longo tempo. De acordo com o Ministério da saúde o período de incubação dessa arbovirose pode variar de dois a doze dias, e seus sintomas costumam durar em média 10 dias, podendo as dores articulares persistirem por meses. 
Os sintomas são parecidos com os da dengue, febre alta, dor e inchaço nos músculos e articulações, dor de cabeça, edema, náuseas, vômitos, dor retroocular, calafrios, conjuntivite,  faringite, diarreia, dor abdominal, neurite, fadiga e exantema (manchas vermelhas na pele). A principal manifestação clínica que as difere são as fortes dores nas articulações, que afetam principalmente pés e mãos (geralmente tornozelos e pulsos).

A doença se divide em três fases: fase aguda, fase subaguda e fase crônica. A fase aguda é onde ocorre o pico da viremia, nela sintomas como febre, vômitos e dores intensas nas articulações estão presentes 24 horas por dia, durando essa fase em média 10 dias. Na fase subaguda os sintomas iniciais já passaram e prevalece a presença de dores nas articulações, podendo haver recorrência de sintomas de fase aguda, essa fase dura em média 3 meses. É nessa fase  que é mais comum o uso de corticóides para ajudar no manejo da dor e na inflamação das articulações. A fase crônica tem como característica a permanência das dores nas articulações, sem recorrência de sintomas de fase aguda e pode durar até 2 anos. Há casos em que a dor se cronifica a ponto de ser necessário fazer sessões de fisioterapia. Conheço uma idosa que teve a febre no meio de 2015, tem osteoporose e devido à intensidade das dores faz fisioterapia duas vezes por semana até hoje( idosos e pessoas com doenças crônicas tendem a ter as formas mais graves da doença).
Embora o chikungunya não seja uma doença de alta mortalidade, tem caráter epidêmico com elevada taxa de morbidade associada à dor articular persistente, tendo como consequência à redução da produtividade e da qualidade de vida. Pessoas com doenças crônicas tem mais chance de desenvolver formas graves da doença, e os sintomas tendem a ser mais intensos em crianças e idosos. As formas graves da infecção pelo CHIKV acometem, com maior frequência, pacientes com comorbidades (história de convulsão febril, diabetes, asma, insuficiência cardíaca, alcoolismo, doenças reumatológicas, anemia falciforme, talassemia e hipertensão arterial sistêmica), crianças, pacientes com idade acima de 65 anos e aqueles que estão em uso de alguns fármacos (aspirina, anti-inflamatórios e paracetamol em altas doses).Há casos em que é necessário o internamento, estes casos geralmente costumam estar relacionados à desidratação e a intensidade da dor. Esta que vos fala teve a infecção, ficou desidratada e foi socorrida cinco vezes, em todas às vezes precisou tomar várias bolsas de soro, analgésicos e medicamentos para náuseas, além ter precisado tomar corticosteroides para aliviar as dores. Foram 12 dias difíceis, e as dores nas articulações ainda estão perdurando.

Como é feito o diagnóstico? Geralmente o diagnóstico costuma ser clínico, de acordo com os sintomas apresentados pelo paciente, mas só exames laboratoriais podem confirmar a presença do vírus. São três os tipos de testes capazes de detectar o Chikungunya: sorologia, PCR em tempo real (RT‐PCR) e isolamento viral. Apesar da existência do exame laboratorial ele não costuma ser utilizado por dois motivos. Primeiro porque a demanda do SUS é enorme, sendo impossível atender a todos de forma satisfatória, em tempo de Dengue, Zika e Chikunngunya as UPAs tem estado lotadas 24hrs por dia. E segundo porque nenhum convenio médico cobre o exame, ele só é realizado de forma particular. O que tem acontecido para a confirmação tem sido o diagnostico por exclusão, no meu caso fiz a sorologia para dengue, fui testada para as imunoglobulinas que identificam dengue atual ou pregressa (infecção em algum momento durante a vida) e através do resultado negativo somado a persistência das intensas dores articulares foi constatada a presença da febre chikungunya.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde o ano de 2004 o vírus já foi identificado em 19 países, número que já deve ter duplicado. Em relação à taxa de mortalidade as mortes são consideradas raras. Dados da epidemia ocorrida em 2004, nas Ilhas Reunião, indicaram taxa de letalidade de 0,1% (256 mortes em um total de 266 mil casos). Entretanto, o índice de mortalidade pela doença tem crescido, em Pernambuco já foram notificados alguns casos de óbito causado pelo vírus. 
De acordo com boletim epidemiológico mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde em 2015 foram notificados 26.952 casos suspeitos de febre de chikungunya. Foram registrados 3 óbitos, sendo 2 na Bahia e 1 em Sergipe.
Não existe tratamento específico para a doença, os sintomas são tratados com medicação para a febre, náuseas e dores articulares. Não é recomendado usar o ácido acetil salicílico (AAS) devido ao risco de hemorragia. Recomenda‐se repouso absoluto ao paciente, que deve beber líquidos em abundância.
Para prevenir a transmissão não tem segredo, devemos tomar as mesmas medidas utilizadas para prevenção da dengue, ficando atentos aos focos do mosquito, eliminar os criadouros, não deixar acumular água em recipientes, verificar se a caixa d´água está bem fechada, não acumular vasilhames no quintal, verificar se as calhas não estão entupidas, colocar areia nos pratos dos vasos de planta e passar repelente a cada 2/2 horas.



Se voce está com suspeita de chikungunya procure a unidade de saúde mais próxima, ingira bastante líquido, coma a cada 3 horas, consuma frutas e vegetais e fique em repouso absoluto. É uma doença difícil de lidar, o mal estar é grande, as dores são intensas e não há vontade nenhuma de se alimentar, mas devemos fazer um esforço pelo bem da nossa saúde. Um organismo bem nutrido tende a passar com menos sofrimento pela doença. Espero ter esclarecido um pouco sobre o vírus, tentei resumir ao máximo, apontando o que tem mais importancia. Para quem tiver interesse de se inteirar mais sobre o assunto recomendo a leitura do Guia de Manejo Clínico da Febre Chikungunya disponibilizado pelo Ministério da Saúde.   

Ah, já ia esquecendo, após apresentar a infecção o organismo fica imune para o resto da vida. (Ao menos uma notícia boa!)

 Bibliografia: 

http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/links-de-interesse/1073-chikungunya/14718-sinais-e-sintomas

http://www.saude.ba.gov.br/novoportal/index.php?option=com_content&id=9496&Itemid=17

http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/29/2016-006---Dengue-SE5-publica----o.pdf


Manejo clínico Febre chikungunya. Ministério da Saúde. http://www.dive.sc.gov.br/conteudos/zoonoses/publicacoes/manejo-chikunguya.pdf





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