Já é de conhecimento mundial os efeitos devastadores que as arboviroses
transmitidas pelos mosquitos do gênero Aedes tem causado. Entre elas está a
Chikungunya, doença infecciosa febril, transmitida pela picada
da fêmea de mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes
albopictus, que atinge principalmente as articulações e nos deixa
incapacitados por muitos dias, deixando de "lembrança" dores que
podem perdurar por um longo tempo. De acordo com o Ministério da saúde o
período de incubação dessa arbovirose pode variar de dois a doze dias, e seus
sintomas costumam durar em média 10 dias, podendo as dores articulares
persistirem por meses.
Os sintomas
são parecidos com os da dengue, febre alta, dor e inchaço nos músculos e articulações, dor
de cabeça, edema, náuseas, vômitos, dor retroocular, calafrios,
conjuntivite, faringite, diarreia, dor abdominal, neurite, fadiga e exantema (manchas vermelhas na pele). A
principal manifestação clínica que as difere são as fortes dores nas
articulações, que afetam principalmente pés e mãos (geralmente tornozelos e
pulsos).
A doença se divide em três fases: fase aguda, fase subaguda e fase crônica. A fase aguda é onde ocorre o pico da viremia, nela sintomas como febre, vômitos e dores intensas nas articulações estão presentes 24 horas por dia, durando essa fase em média 10 dias. Na fase subaguda os sintomas iniciais já passaram e prevalece a presença de dores nas articulações, podendo haver recorrência de sintomas de fase aguda, essa fase dura em média 3 meses. É nessa fase que é mais comum o uso de corticóides para ajudar no manejo da dor e na inflamação das articulações. A fase crônica tem como característica a permanência das dores nas articulações, sem recorrência de sintomas de fase aguda e pode durar até 2 anos. Há casos em que a dor se cronifica a ponto de ser necessário fazer sessões de fisioterapia. Conheço uma idosa que teve a febre no meio de 2015, tem osteoporose e devido à intensidade das dores faz fisioterapia duas vezes por semana até hoje( idosos e pessoas com doenças crônicas tendem a ter as formas mais graves da doença).
Embora o chikungunya
não seja uma doença de alta mortalidade, tem caráter epidêmico com elevada taxa
de morbidade associada à dor articular persistente, tendo como consequência à
redução da produtividade e da qualidade de vida. Pessoas com doenças crônicas tem mais chance de desenvolver formas graves da
doença, e os sintomas tendem a ser mais intensos em crianças e idosos. As formas
graves da infecção pelo CHIKV acometem, com maior frequência, pacientes com comorbidades (história
de convulsão febril, diabetes, asma, insuficiência cardíaca, alcoolismo, doenças reumatológicas,
anemia falciforme, talassemia e hipertensão arterial sistêmica), crianças, pacientes com idade acima
de 65 anos e aqueles que estão em uso de alguns fármacos (aspirina, anti-inflamatórios e paracetamol
em altas doses).Há casos
em que é necessário o internamento, estes casos geralmente costumam estar
relacionados à desidratação e a intensidade da dor. Esta que vos fala teve a
infecção, ficou desidratada e foi socorrida cinco vezes, em todas às vezes
precisou tomar várias bolsas de soro, analgésicos e medicamentos para náuseas,
além ter precisado tomar corticosteroides para aliviar as dores. Foram 12 dias
difíceis, e as dores nas articulações ainda estão perdurando.
Como é feito o
diagnóstico? Geralmente o diagnóstico costuma ser clínico, de acordo com os
sintomas apresentados pelo paciente, mas só exames laboratoriais podem
confirmar a presença do vírus. São três os tipos de testes capazes de
detectar o Chikungunya: sorologia, PCR em tempo real (RT‐PCR) e isolamento viral. Apesar da existência do exame laboratorial ele
não costuma ser utilizado por dois motivos. Primeiro porque a demanda do SUS é
enorme, sendo impossível atender a todos de forma satisfatória, em tempo de
Dengue, Zika e Chikunngunya as UPAs tem estado lotadas 24hrs por dia. E segundo
porque nenhum convenio médico cobre o exame, ele só é realizado de forma
particular. O que tem acontecido para a confirmação tem sido o diagnostico por
exclusão, no meu caso fiz a sorologia para dengue, fui testada para as
imunoglobulinas que identificam dengue atual ou pregressa (infecção em algum momento
durante a vida) e através do resultado negativo somado a persistência das
intensas dores articulares foi constatada a presença da febre chikungunya.
De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), desde o ano de 2004 o vírus já foi
identificado em 19 países, número que já deve ter duplicado. Em relação à taxa de
mortalidade as mortes são consideradas raras. Dados da epidemia ocorrida
em 2004, nas Ilhas Reunião, indicaram taxa de letalidade de 0,1% (256 mortes em
um total de 266 mil casos). Entretanto, o índice de mortalidade pela doença tem
crescido, em Pernambuco já foram notificados alguns casos de óbito causado pelo
vírus.
De acordo com boletim epidemiológico
mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde em 2015 foram notificados
26.952 casos suspeitos de febre de chikungunya. Foram registrados 3 óbitos,
sendo 2 na Bahia e 1 em Sergipe.
Não existe tratamento específico para a doença, os sintomas são tratados
com medicação para a febre, náuseas e dores articulares. Não é recomendado usar
o ácido acetil salicílico (AAS) devido ao risco de hemorragia. Recomenda‐se repouso absoluto ao paciente, que deve beber líquidos em abundância.
Para prevenir a transmissão não tem segredo, devemos tomar as mesmas
medidas utilizadas para prevenção da dengue, ficando atentos aos focos do
mosquito, eliminar os criadouros, não deixar acumular água em recipientes,
verificar se a caixa d´água está bem fechada, não acumular vasilhames no
quintal, verificar se as calhas não estão entupidas, colocar areia nos pratos
dos vasos de planta e passar repelente a cada 2/2 horas.
Se voce está com suspeita de chikungunya procure a unidade de saúde mais próxima, ingira bastante líquido, coma a cada 3 horas, consuma frutas e vegetais e fique em repouso absoluto. É uma doença difícil de lidar, o mal estar é grande, as dores são intensas e não há vontade nenhuma de se alimentar, mas devemos fazer um esforço pelo bem da nossa saúde. Um organismo bem nutrido tende a passar com menos sofrimento pela doença. Espero ter esclarecido um pouco sobre o vírus, tentei resumir ao máximo, apontando o que tem mais importancia. Para quem tiver interesse de se inteirar mais sobre o assunto recomendo a leitura do Guia de Manejo Clínico da Febre Chikungunya disponibilizado pelo Ministério da Saúde.
Ah, já ia esquecendo, após apresentar a infecção o organismo fica imune para o resto da vida. (Ao menos uma notícia boa!)
Bibliografia:
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/links-de-interesse/1073-chikungunya/14718-sinais-e-sintomas
http://www.saude.ba.gov.br/novoportal/index.php?option=com_content&id=9496&Itemid=17
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/29/2016-006---Dengue-SE5-publica----o.pdf
Manejo clínico Febre chikungunya. Ministério da Saúde. http://www.dive.sc.gov.br/conteudos/zoonoses/publicacoes/manejo-chikunguya.pdf